sexta-feira, maio 23, 2008

A Giesta a Urze e o Centeio

Vista sobre a Ladeira e Avesseira ( antigos terrenos de cultivo - 1.100 mts Alt. ), Covilhã ao fundo e Picoto sobranceiro.
Maio 2008


(...)Com o Inverno, a aldeia tomava outra fisionomia. Até aí, fosse na Primavera, fosse no Verão ou no Outono, os homens mal paravam em casa. Quando volviam das fábricas, punham-se a falaciar com os vizinhos ou a cavar algum palmo de chão, ate a hora do lusco-fusco. Os que laboravam no turno da noite e possuíam um quinchoso ou leiras nas declividades da serra, empregavam o dia a amanhar essas territas. Muitos deles, ao entrar
nas fábricas, às cinco da tarde, já haviam trabucado seis e oito horas, mas tinham por boa sorte consumar, num mesmo dia, esse duplo 'trabalho, pois sem o acrescento das couves, das batatas e, às vezes, do centeio que as courelas davam, o salário não lhes bastaria para sustentar a família.
No Inverno, porém, belgas e quintais magra assistência exigiam. Sob o céu pardo, nas ruelas cobertas de lama ou de neve, os casebres tornavam-se lúgubres e, mesmo nas horas diurnas, adquiriam feições de cavernas, com um lume a arder lá dentro. Antigamente, os homens metiam-se nas vendas e emborrachavam-se nesses dias pluviosos. Mas, com o decorrer dos anos, a propaganda contra o álcool, feita pelos próprios operários mais conscientes, fora afastando das tabernas a maioria deles. Como Ricardo, quase todos os outros, ao volver das fábricas ficavam em casa ou se juntavam, em paleio, no casebre do Marreta. As casas eram, porém, de uma tristeza infinita, mais negras e enervantes do que o próprio Inverno. Nelas, as mães increpavam os filhos, que saiam a patinar nos lodaçais, a correr. muito contentes, sob chuva ou a brincar na neve, se esta já caíra(...)

Ferreira de Castro, A Lã e a Neve

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