Uma das maiores manchas vermelhas - que indicam risco "muito elevado" de incêndio - está sobre um polígono central que inclui as serras da Estrela, do Açor, da Lousã, da Gardunha e muitos dos concelhos fortemente afectados pelos brutais fogos florestais de 2003. Entre eles estão Oleiros, Vila de Rei, Mação, Sertã e Proença-a-Nova.
Muitas áreas protegidas também estão pintadas com o risco máximo, como o Parque Nacional da Peneda-Gerês e os parques naturais da Arrábida, serra da Estrela, serra de São Mamede e serra de Aire e Candeeiros.
Os pontos críticos estendem-se pelas zonas montanhosas do Norte do país e concentram-se também no Algarve, especialmente na serra de Monchique.
A nova carta de risco foi feita com base na sobreposição de vários factores que contribuem para o risco dos fogos: a ocupação do solo, os declives, as redes viárias, a exposição ao sol e a densidade populacional.
Segundo Arménio Castanheira, director-geral do IGP, a carta mostra a maior ou menor probabilidade de uma área arder, caso haja uma ignição. Uma das grandes novidades é a sua escala. Cada ponto do mapa representa um quadrado real no terreno com 25 metros de lado. "Esta carta garante o pormenor e poderá servir de base para a elaboração de planos municípais", diz Arménio Castanheira.
Outras informações estão integradas na cartografia, como a visibilidade dos postos de vigia, os tempos de percurso a partir das sedes dos bombeiros, as povoações em risco e as prioridades de vigilância.
Iniciativa complementar
Não é a primeira carta de risco de incêndio do país. A iniciativa do IGP é, aliás, tida como complementar a outra carta, produzida todos os anos pelo Instituto Superior de Agronomia para a Direcção-Geral dos Recursos Florestais. Esta indica, mais concretamente, que zonas estão em maior risco de arder em cada ano.
Para isto, leva em conta as áreas ardidas ao logo de duas décadas, a taxa de crescimento da biomassa desde os fogos mais recentes e o estado da vegetação no final de Maio - se está mais seca ou mais húmida.
"A sua vocação principal é apoiar o pré-posicionamento dos meios de combate", afirma José Miguel Cardoso Pereira, coordenador da equipa que produz a carta.
Mas esta utilidade está comprometida este ano. Atrasos no pagamento do contrato com o Instituto Superior de Agronomia fizeram com que até agora, às vésperas dos fogos, a carta ainda não esteja pronta. José Miguel Pereira acredita que o trabalho esteja concluído na segunda semana de Julho.
O Instituto de Meteorologia também está a aperfeiçoar a sua cartografia de risco de fogos, que aborda a probabilidade de ocorrência de incêndios no próprio dia e nos dias seguintes. Uma das novidades do instituto é uma carta combinada, que junta um índice meteorológico de incêndio - o FWI (Fire Weather Index) - com informação sobre a secura do coberto vegetal e com os tipos de solos.
É esta a carta-base que a Autoridade Nacional de Protecção Civil utiliza todos os dias. Mas para o seu comandante nacional, Gil Martins, os maiores factores de risco não estão na geografia ou na meteorologia. "A questão está no comportamento das pessoas", diz.
Público Online
21.06.2008 - 08h50 Ricardo Garcia