
in Diário Digital
Durante o Periodo Quaternário, ocorreram fortes oscilações climáticas traduzidas em fases glaciárias que alternavam com fases interglaciárias, de que resultaram quatro glaciações: Gunz, Mindel, Riss e Wurm. Em Portugal, podemos encontrar registos da acção erosiva glaciária na Serra da Estrela, a qual foi fortemente afectada pela glaciação de Wurm, a última glaciação Quaternária que teve o seu pico na Serra há cerca de 20 mil anos e a única que atingiu o nosso país. Se houve outras, as suas marcas foram apagadas por esta última.
Os vestígios desta glaciação estão representados pelos vales em U, depósitos de moreias, blocos erráticos e rochas polidas e estriadas.
Os glaciares da Serra da Estrela, alguns somente identificáveis por restos de moreias conservadas, são: Glaciar do Zêzere, Glaciar do Alforfa, Glaciar da Estrela, Glaciar do Alvoco, Glaciar do Loriga, Glaciar do Covão do Vidual e Glaciar do Covão do Urso.
A área da glaciação da Serra da Estrela é constituída por granitóides hercínicos, enquanto as áreas envolventes se desenvolvem essencialmente em metassedimentos do "Complexo Xisto-grauváquico". Encontram-se ainda depósitos glaciários e fluvio-glaciários e rochas filonianas.
Eduardo Marabuto, Pedro Pires & João Pedro Cardoso TAGIS – Centro de Conservação das Borboletas de Portugal – Museu Nacional de História Natural Rua da Escola Politécnica, 58 1269-102 Lisboa (Portugal) – web: www.tagis.net; e-mail: tagis@tagis.net
Introdução
A Serra da Estrela sendo o maior maciço montanhoso tanto em extensão como em altitude – de Portugal Conti nental, apresenta alguma importância no estudo da fauna lepidopterológica local, uma vez que aí podem ser encontradas espécies únicas num país geralmente de baixas altitudes e com influências mediterrânicas. Apesar de não atingir o patamar alpino (acimados2000m), a maior parte do maciço está a uma altitude que ronda os 1000m ou superior, o que influi positivamente na sua biodiversidade,também influen ciada pela localização relativamente meridional tornando-o um ponto de convergência entre espécies mediterrânicas e outras de origem europeia ou de climas mais frios que não costumam estar bem presentes em Portugal. É além disso uma continuação do Sistema Central Ibérico do qual fazem parte as serras espanholas de Guada- rrama, Gredos e Sierra de Gata o que a torna um local potencial para se encontrarem espécies até agora endémicas nestas serras (Corley, 2002). O estudo deste local agora protegido como Parque Natural remonta ao princípio do século XX com as prospecções de Cândido Mendes de Azevedo (1910, 1912- 1913) e outros, resultando em 110 espécies de heteroceros e 98 espécies de rhopaloceros. Mais tarde Martin Corley, em Setembro de 2001 (Corley, 2002) acrescenta 26 espécies para a fauna de Portugal mas muitas outras são omitidas do artigo sendo de conhecimento apenas que foram encontradas cerca de 300, incluindo microlepidópteros. Apesar dos incêndios que alastraram por todo o país durante o mês de Agosto e do receio sentido por nós, a expedição sob o âmbito dos projectos do recém-formado TAGIS (Centro de Conservação das Borboletas de Portu gal) e apoiada pela Ciência Viva – Biologia no Verão, teve lugar com a visita a essencialmente um local para as borboletas diurnas (Rhopalocera) e a três locais no âmbito das borboletas nocturnas (Macroheterocera) em que foram utilizadas lâmpadas de vapor de mercúrio (125W) com lençol branco horizontal ou vertical:
! Verdelhos – 600m alt. UTM 10km: 29TPE36 No sudeste do Parque e perto dos seus limites, esta localidade não parece apresentar interesse especial mas foi aqui, no Parque de Campismo Rural onde pernoitámos, tendo-se montado uma luz na primeira noite, com algumas espécies interessantes apesar de tanto o número como a variedade de lepidópteros se revelar baixa. No geral a vegetação era constituída por carvalhos (Quercus pyrenaica) e pinheiros (Pinus pinaster) além de sub-arbustos de Erica arborea e Cytisus sp. Na ribeira que passa perto, Ribeira de Beijames, podiam-se ver ainda salgueiros (Salix cinerea) ao longo das margens. Uma lâmpada foi montada aqui, no dia 21 Agosto 2003. 35 Espécies de Macroheterocera e 4 de Rhopalocera .
Tendo como pontos importantes o estudo e observação das populações locais de três espécies de borboletas diurnas: Lycaena tityrus (Poda, 1761) sobre a qual se fará algo mais aprofundado num futuro próximo; Satyrus actaea (Esper, 1780) e estado das populações de Hyponephele sp.; estes meros 3 dias na Serra da Estrela serviram para aprofundar o conhecimento lepidopterológico destes locais assim como para dar a conhecer este grupo de insectos a pessoas que nunca tinhamentrado em contacto com eles dum ponto de vista mais real, mais científico e aprofundado. Apesar do estudo dos Rhopalocera anteriormente citados ser essencial, e principalmente devido à enorme diversidade, também era nosso intuito alargar o conhecimento dos Lepidópteros Macroheteroceros da Serra da Estrela, que possui alguns endemismos interessantes. Obviamente que 3 dias apenas não são suficientes para uma lista muito alargada mas nela constam algumas espécies peculiares inclusive uma espécie, Mesoligia literosa (Haworth, 1809) e uma subespécie novas para Portugal, Lycaena tityrus ssp. bleusei (Oberthür, 1884). Concluído o trabalho, foram registadas 32 espécies de Rhopalocera e 101 de Macroheterocera num total de 133 espécies, listadas em anexo conjuntamente com observações a seu respeito.