quarta-feira, julho 26, 2006

e as Borboletas no Parque Natural da Serra da Estrela...

Lycaena tityrus ssp. bleusei (Oberthür, 1884) (Lycaenidae)


CONTRIBUIÇÃO PARA O CONHECIMENTO DOS MACROLEPIDÓPTEROS DO PARQUE NATURAL DA SERRA DA ESTRELA, PORTUGAL (LEPIDOPTERA)

Eduardo Marabuto, Pedro Pires & João Pedro Cardoso TAGIS – Centro de Conservação das Borboletas de Portugal – Museu Nacional de História Natural Rua da Escola Politécnica, 58 1269-102 Lisboa (Portugal) – web: www.tagis.net; e-mail: tagis@tagis.net

Resumen:
Durante una expedición de tres días y noches en el sur del Parque Natural da Serra da Estrela, entre los dias 21 y 23 de Agosto 2003, fueron registradas las especies de macrolepidópteros observadas durante el día, en el campo, y por la noche, las atraídas a las luces. En total fueron registradas 133 especies y, entre ellas, dos nuevos para Portugal, Lycaena tityrus ssp. bleusei (Oberthür, 1884) (Lycaenidae) y Mesoligia literosa (Haworth, 1809) (Noctuidae).

Palabras clave: Lepidoptera, Serra da Estrela, Portugal Contribution to the knowledge of the Macrolepidoptera of the Parque Natural da Serra da Estrela, Portugal (Lepidoptera)

Abstract:
During a three-day and -night expedition in the south of the Parque Natural da Serra da Estrela from the 21s ttill the 23rd August 2003, a record was kept of the species of Macrolepidoptera seen during the day on the field or at night at the lights, in order to better understand the region’s fauna of this group of Lepidoptera. Two taxa are first records for Portugal, Lycaena tityrus ssp. bleusei (Oberthür, 1884) (Lycaenidae) and Mesoligia literosa (Haworth, 1809) (Noctuidae),among a total of 133 species found.

Key words: Lepidoptera, Serra da Estrela, Portugal.

Introdução

A Serra da Estrela sendo o maior maciço montanhoso tanto em extensão como em altitude – de Portugal Conti nental, apresenta alguma importância no estudo da fauna lepidopterológica local, uma vez que aí podem ser encontradas espécies únicas num país geralmente de baixas altitudes e com influências mediterrânicas. Apesar de não atingir o patamar alpino (acimados2000m), a maior parte do maciço está a uma altitude que ronda os 1000m ou superior, o que influi positivamente na sua biodiversidade,também influen ciada pela localização relativamente meridional tornando-o um ponto de convergência entre espécies mediterrânicas e outras de origem europeia ou de climas mais frios que não costumam estar bem presentes em Portugal. É além disso uma continuação do Sistema Central Ibérico do qual fazem parte as serras espanholas de Guada- rrama, Gredos e Sierra de Gata o que a torna um local potencial para se encontrarem espécies até agora endémicas nestas serras (Corley, 2002). O estudo deste local agora protegido como Parque Natural remonta ao princípio do século XX com as prospecções de Cândido Mendes de Azevedo (1910, 1912- 1913) e outros, resultando em 110 espécies de heteroceros e 98 espécies de rhopaloceros. Mais tarde Martin Corley, em Setembro de 2001 (Corley, 2002) acrescenta 26 espécies para a fauna de Portugal mas muitas outras são omitidas do artigo sendo de conhecimento apenas que foram encontradas cerca de 300, incluindo microlepidópteros. Apesar dos incêndios que alastraram por todo o país durante o mês de Agosto e do receio sentido por nós, a expedição sob o âmbito dos projectos do recém-formado TAGIS (Centro de Conservação das Borboletas de Portu gal) e apoiada pela Ciência Viva – Biologia no Verão, teve lugar com a visita a essencialmente um local para as borboletas diurnas (Rhopalocera) e a três locais no âmbito das borboletas nocturnas (Macroheterocera) em que foram utilizadas lâmpadas de vapor de mercúrio (125W) com lençol branco horizontal ou vertical:


! Verdelhos – 600m alt. UTM 10km: 29TPE36 No sudeste do Parque e perto dos seus limites, esta localidade não parece apresentar interesse especial mas foi aqui, no Parque de Campismo Rural onde pernoitámos, tendo-se montado uma luz na primeira noite, com algumas espécies interessantes apesar de tanto o número como a variedade de lepidópteros se revelar baixa. No geral a vegetação era constituída por carvalhos (Quercus pyrenaica) e pinheiros (Pinus pinaster) além de sub-arbustos de Erica arborea e Cytisus sp. Na ribeira que passa perto, Ribeira de Beijames, podiam-se ver ainda salgueiros (Salix cinerea) ao longo das margens. Uma lâmpada foi montada aqui, no dia 21 Agosto 2003. 35 Espécies de Macroheterocera e 4 de Rhopalocera .


! Covões – Vale Glaciário do Zêzere 1100m alt. UTM 10km: 29TPE26 O vale glaciário do Zêzere, em perfeito formato de “U” é o que melhor reproduz a existência de um glaciar em Portugal no passado. A sua altitude (rio Zêzere corre aí a 1000m) torna- o num micro clima específico de montanha, extremamente frio no Inverno e bastante quente no Verão. A abundância de Lepidópteros é especialmente patente de dia onde se concen- tram, durante os meses quentes, em zonas com abundância de hortelã-pimenta (Mentha piperita) e Compositae em flor. A vegetação é dominada por arbustos de giestas (Cytisus sp.), algumas hortas e pequenos prados de gramíneas. Nas encostas é de salientar a existência de afloramentos rochosos proeminentes e pinhal aberto. Duas lâmpadas montadas durante a noite de 22 Agosto após uma chuva forte e trovoada e prospecções diurnas todos os dias. 69 Espécies inventariadas sendo que 37 são Heterocera.


! Poço do Inferno – 1200m alt. UTM 10km: 29TPE27 Constituído por uma queda de água, o Poço do Inferno é rodeado essencialmente por árvores caducifólias (bétulas, carvalhos, castanheiros) e outras, formando um bosque mais húmido do que as zonas anteriores mas suficientemente resguardado para que durante a noite houvesse condições para montar os aparelhos de captura. Esta zona, bem conhecida dum dos autores (Pedro Pires) e onde anteriormente se haviam descoberto 3 espécies novas para Portugal (Noctua tirrenica, Catocala fraxini e Amphipyra tetra; Corley, 2002), era um dos pontos altos da jornada e as expectativas naturalmente grandes. Os investigadores foram aí ajudados na recolha e identificação das espécies pelos participantes da actividade organizada pelo TAGIS sendo que os resultados provaram ser satisfatórios. Esta zona da Serra da Estrela revelou-se de longe a mais rica dos locais de amostragem com mais de 40% das espécies de Macroheteroceros sido encontradas apenas neste local. Foram montadas aqui 3 lâmpadas na noite de 23 Agosto 2003 com 83 espécies registadas.

Tendo como pontos importantes o estudo e observação das populações locais de três espécies de borboletas diurnas: Lycaena tityrus (Poda, 1761) sobre a qual se fará algo mais aprofundado num futuro próximo; Satyrus actaea (Esper, 1780) e estado das populações de Hyponephele sp.; estes meros 3 dias na Serra da Estrela serviram para aprofundar o conhecimento lepidopterológico destes locais assim como para dar a conhecer este grupo de insectos a pessoas que nunca tinhamentrado em contacto com eles dum ponto de vista mais real, mais científico e aprofundado. Apesar do estudo dos Rhopalocera anteriormente citados ser essencial, e principalmente devido à enorme diversidade, também era nosso intuito alargar o conhecimento dos Lepidópteros Macroheteroceros da Serra da Estrela, que possui alguns endemismos interessantes. Obviamente que 3 dias apenas não são suficientes para uma lista muito alargada mas nela constam algumas espécies peculiares inclusive uma espécie, Mesoligia literosa (Haworth, 1809) e uma subespécie novas para Portugal, Lycaena tityrus ssp. bleusei (Oberthür, 1884). Concluído o trabalho, foram registadas 32 espécies de Rhopalocera e 101 de Macroheterocera num total de 133 espécies, listadas em anexo conjuntamente com observações a seu respeito.


Agradecimento Os autores querem agradecer a participação nesta actividade promovida pelo TAGIS a todos os participantes, em especial ao Paulo Henriques, ao Jorge Mendes e ao Humberto Grácio pelo seu entusiasmo em campo e vontade frenética em tirar fotografias a tudo o que aparecia na última noite. Também ao Sr. José Maria, funcionário do PNSE e gerente do Parque de Campismo Rural onde pernoitámos mesmo incomodando terceiros com as luzes fortes durante a noite. O primeiro autor deseja ainda agradecer pessoalmente a Martin Corley pela sua disponibili- dade na revisão do manuscrito e na identificação das seguintes espécies: Hoplodrina hesperica, Eublemma ostrina, Charissa mucidarius e Idaea contiguaria além de valiosos conselhos noutras espécies.
(...)

in Boln. S.E.A., nº 34 (2004) : 171 – 175.

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