segunda-feira, fevereiro 25, 2008

Segunda

Fotografia de Redol, Bento de Jesus Caraça, de Fernando Lopes Graça, de Manuel da Fonseca, Mário Dionísio...


Segunda

Quando foi que demorei os olhos

sobre os seios nascendo debaixo das blusas,

das raparigas que vinham, à tarde, brincar comigo?...

... Como nasci poeta,

devia ter sido muito antes que as mães se apercebessem disso

e fizessem mais largas as blusas para as suas meninas.

Quando, não sei ao certo.




Mas a história dos peitos, debaixo das blusas,

foi um grande mistério.

Tão grande

que eu corria até ao cansaço.

E jogava pedradas a coisas impossíveis de tocar,

como sejam os pássaros quando passam voando.

E desafiava,

sem razão aparente,

rapazes muito mais velhos e fortes!

E uma vez,

de cima de um telhado,

joguei uma pedrada tão certeira,

que levou o chapéu do senhor administrador!

Em toda a vila,

se falou, logo, num caso de política;

o senhor administrador

mandou vir, da cidade, uma pistola,

que mostrava, nos cafés, a quem a queria ver;

e os do partido contrário,

deixaram crescer o musgo nos telhados

com medo daquela raiva de tiros para o céu...


Tal era o mistério dos seios nascendo debaixo das blusas!

Manuel da Fonseca

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