terça-feira, janeiro 03, 2006

Espécies em risco na Estrela

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Espécies em risco na Estrela

consequências Avaliação preliminar dos efeitos dos incêndios do Verão passado confirma preocupação Povoamento de teixos quase desapareceu e foram afectados animais protegidos

Alfredo Maia

Os incêndios do Verão queimaram 12,5% da área florestal do Parque Natural da Serra da Estrela, mas afectaram 20 habitats protegidos pela legislação europeia, cinco dos quais são prioritários. A floresta de teixo - uma espécie muito rara - quase desapareceu e será de muito difícil recuperação. O maior medronhal ficou queimado, mas a regeneração ainda é possível.

Aqueles elementos constam do relatório preliminar da caracterização dos efeitos dos incêndios, que percorreram mais de dez mil hectares, com especial incidência nas zonas de Vide (Seia), Ribeira (Vale do Zêzere) e Paço da Serra (Gouveia), que aborda as áreas ardidas e define as cartas de valores da fauna, da flora, dos habitats e dos declives (para definir o risco de erosão).

Destinado a orientar a monitorização da regeneração natural e a habilitar a Direcção do PNSE a tomar decisões sobre as medidas e áreas prioritárias de recuperação artificial, o documento, que deverá estar completo na segunda quinzena deste mês, conclui que foram atingidos 2500 hectares de povoamento de pinheiro-bravo, mil de povoamentos mistos e 200 de carvalhal.

Descoberta com limpeza

Pior do que os povoamentos, são os efeitos nas duas dezenas de habitats, importantes para a conservação da Natureza e por isso protegidos pela Directiva Habitats da União Europeia. Entre os cinco prioritários atingidos, destaca-se o de teixos, situado na Barroca do Teixo, no Vale do Zêzere.

Espécie arbustiva de crescimento muito lento e muito rara (as últimas estimativas apontavam para dez mil indivíduos em todo o país), resiste em sub-bosques de altitude no Gerês e na Estrela. No Vale do Zêzere, tinham sido identificados apenas 30 arbustos, mas uma limpeza de matos há alguns anos permitiu descobrir afinal uma comunidade de uns 500 indivíduos - o "brinquinho" do Parque, como assinala o seu director, Fernando Matos, confrontado com a notícia "ardeu quase tudo!".

Acções de repovoamento estão comprometidas, pois não há viveiros em Portugal a produzir a espécie. Ao contrário do que se passa já com outras espécies autóctones, como o carvalho, pois encontram-se já em produção 250 mil plantas, obtidas a partir de material colhido no próprio parque e preparadas nos viveiros da Serra da Malcata.

Ainda de acordo com os dados preliminares, calcula-se que mais de 30 espécies da flora tenham sido atingidas, embora não se conheça o grau de afectação (só o relativo ao teixo parece inequívoco) e seja mais prudente aguardar a Primavera, para avaliar a regeneração natural. Entre elas encontram-se três variedades de festuca e vários narcisos.

Em relação à fauna, concluiu-se que as áreas ardidas correspondem a áreas de ocupação de espécies importantes, como a víbora-cornuda e a osga. Diversos invertebrados, e aves como o pisco-de-peito-azul e espécies cinegéticas como a lebre, o coelho e o javali foram igualmente afectados.

Risco de erosão

Outro efeito dos incêndios é o risco de erosão do solo, cujas perdas vão ser avaliadas pelo Centro de Estudos Geográficos da Faculdade de Letras da Lisboa. A situação é grave no Vale do Zêzere e na Teixeira, em Vide, onde foram aplicadas medidas de emergência de contenção de solo e para onde de projectam reflorestações.

Ao contrário do que aconteceu em 2003, quando a cidade de Seia foi privada de abastecimento de água a partir da Lagoa Comprida, devido a deficiência na estação depuradora, os incêndios deste ano não terão causado problemas deste tipo. Mas a qualidade e a quantidade dos recursos hídricos serão monitorizados.

http://jn.sapo.pt/2006/01/02/sociedade/especies_risco_estrela.html

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