sexta-feira, janeiro 06, 2006
A nossa "mui" amada Banda Filarmónica Carvalhense
...Uma paixão de todos os da Montanha, do "people da naifa", parece que têm algum jeitito para a coisa, ...os ritmos das lançadeiras foram o solfejo de uma gente, que sempre viu na música a libertação da alma da parafernália industrial de uma cidade do interior com laivos de capitalismo burguês...
Banda recebeu em 1991 o Estatuto de Utilidade Pública Filarmónica Recreativa Carvalhense está à beira do centenário e procura mais músicos
Nome: Filarmónica Recreativa Carvalhense
Fundação: 1 de Janeiro de 1908
Sócios: 1108
Quota anual: seis euros (três euros para estudantes e reformados)
Sede: Rua Padre Parente, 6200-233 Vila do Carvalho
Datas importantes: 1 de janeiro de 1908, dia da fundação: actuações regulares no 1º de Maio, Dia Mundial da Música, Dia da Padroeira Santa Cecília e pelo Carnaval Liliana Machadinha
É com orgulho que Manuel Serra, presidente da Filarmónica Recreativa Carvalhense conta os anos que faltam para o centenário. “Só faltam dois, por isso, havemos de lá chegar”. Os 100 anos são vistos por este responsável como uma homenagem à “meia- dúzia de fundadores que ergueram a banda em 1908". “Esta é uma vila de trabalhadores que criaram a banda como forma de fugir à rotina e libertarem o stress no final das semanas de trabalho”. Desta forma, continua a narrar que "a harmonia da música era uma forma de se descontraírem do barulho ensurdecedor da máquinas, nas fábricas de lanifícios”.
Classificando a data de “muito especial para todos os elementos”, ressalva que os festejos da data de fundação foram mudados para o primeiro fim-de-semana de Janeiro, devido à comemoração da passagem de ano. Depois de amanhã, domingo, é o dia da festa da fundação, que vai ser animado com um convívio entre membros da banda, familiares e amigos, decorrendo também o baptismo de três novos elementos. Um orgulho para o presidente, que insiste em frisar que a Filarmónica Recreativa Carvalhense (FRC) é “das poucas colectividades” que tem o Estatuto de Utilidade Pública, recebido em 1991, assim como a Medalha de Mérito Municipal.
Actualmente há cerca de 50 instrumentistas, com idades compreendidas entre os 12 e os 85 anos de idade, mas a verdade é que há cada vez menos músicos a ingressar na banda. Isto apesar de "o interesse das camadas mais jovens não ter decrescido", segundo refere o presidente da colectividade. E descreve que a situação ilustra a diminuição do número de jovens residentes na vila e não falta de interesse pelo associativismo. A FRC tem perto de uma dezena de membros que frequentam cursos superiores fora da região e, "por essa razão, é mais difícil juntar todos os elementos para ensaios e para algumas saídas", conta Manuel Serra. Um cenário que o leva a admitir a possibilidade de abrir a porta a músicos das freguesias circundantes. Até ao momento, só dois dos membros não vivem na localidade.
Para além do número de músicos, garante que cerca de metade dos habitantes da freguesia são sócios da banda.
Escola de Música da colectividade
"A casa que os ensinou a todos"
A Escola de Música foi criada há mais de 20 anos atrás, refere o presidente da FRC, e a maioria dos elementos da banda passaram por lá. “Foi a casa que os ensinou a todos”. É o caso de João Bouceiro. Quis o destino que fosse o actual maestro e também professor da Escola de Música e na colectividade onde aprendeu a tocar as primeiras notas.
A Escola oferece o ensino totalmente gratuito, assim como os instrumentos para a devida aprendizagem e as fardas necessárias aos membros da filarmónica. "Em muitas bandas isso não acontece”, faz questão de sublinhar o presidente.
Sem compensação financeira
Músicos por gosto
Como associação recreativa “em prol da comunidade em que está inserida”, nenhum dos músicos da FRC recebe salário. A única compensação que existe são os lucros das festas de Verão, divididos por todos os instrumentistas. Mas, “é um valor irrisório, que quase nem dá para as solas dos sapatos que se gastam ao caminhar pelas ruas, a tocar”, conclui.
Subsídios da Câmara, Junta e INATEL não chegam
Dificuldades financeiras adiam obras na sede
As dificuldades financeiras são a maior dor de cabeça da Filarmónica Carvalhense. "Um reflexo da crise económica que assola o País”, diz Manuel Serra. A maior fonte de receitas é a quotização, mas “não dá para quase nada”. Actualmente, a associação vive dos subsídios da Câmara Municipal da Covilhã, Junta de Freguesia da Vila do Carvalho e Inatel.
Com uma sede estreada há cinco anos atrás, os problemas com infiltrações são notórios nas manchas negras causadas pela humidade nas paredes e que “não agradam à vista de ninguém”. Um problema que já há muito está para ser resolvido com a ajuda da autarquia covilhanense, mas que por falta de comparência do empreiteiro ainda não foi tratado, lamenta. “Estamos dependentes dos subsídios que recebemos, porque não temos condições para fazer as obras. E sem a aprovação dos orçamentos ou apoios de outras entidades, não podemos fazer o que queremos.” Com uma outra reunião já pedida ao presidente da Câmara Municipal da Covilhã, Manuel Serra acredita que a ajuda para as obras chegará, apesar dos “tempos de contenção e da crise financeira”.
Banda canta as Janeiras e o Encomendar das Almas
“As tradições da vila são para manter”
Em termos administrativos, as eleições para os corpos sociais da Filarmónica Recreativa Carvalhense vão ser feitas durante este primeiro trimestre de 2006. por outro lado, o plano de actividades não está elaborado, mas “nunca somos muito ambiciosos, porque temos poucas verbas disponíveis”. Seja como for, algumas actividades "serão sempre mantidas". O Cantar das Janeiras, por exemplo, que este ano decorreu uma semana antes do Natal, e que por isso foi intitulada de Boas Festas. Um passeio pela freguesia que rendeu algum dinheiro à colectividade, afirma, e que a população recebeu de “muito bom grado” .
Também o grupo de danças e cantares têm entre mãos um projecto de recuperação de músicas e danças tradicionais da região.
A aposta em artistas da terra "é uma actividade a manter", garante Manuel Serra. A FRC apoia a organização de exposições de pintura, trabalhos manuais, bordados e até esculturas com produtos recicláveis.
Outra tradição, “O Encomendar das Almas”, cânticos entoados por altura da Quaresma, esteve quase perdida, mas foi reavivada pela banda. “Agora acontece todos os anos”, assegura Manuel Serra. Assim, todas as sextas, desde o final do Carnaval até à Páscoa, a banda junta-se à noite, na sede, e após as doze badaladas percorre treze pontos distintos da freguesia a tocar e a entoar os cânticos. A população, ao longo do percurso, junta-se à marcha.
Um projecto futuro é a constituição de uma biblioteca que ficará situada na própria sede - e que até está planeada na planta das instalações. Apesar de já terem os livros e mobiliário necessários, falta ajuda para a catalogação das obras. Um trabalho que “até ao momento não foi possível realizar com o devido cuidado”.
in Diario XXI
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